Na última segunda-feira (04), foi celebrado o Dia Mundial das Crianças Vítimas de Agressão, data que alerta para as condições de violência em que algumas delas estão sujeitas em várias partes do mundo. Para falar sobre o tema, convidamos a psicóloga Ana Brandão, que aborda o atendimento psicológico na área, os desafios no Brasil e as possibilidades de avanço na articulação das redes de apoio locais.
Psicóloga jurídica, Ana Maria Mendes Brandão é gestora em Políticas Públicas e Gestão Governamental, atuando na Defensoria Pública do DF, no Núcleo de Assistência Jurídica da Infância e Juventude, tendo mais de 10 anos de experiência na área. É mediadora e conciliadora pelo TJDFT.
Confira:
Uma série de questões coloca hoje crianças de todo o mundo em situação de vulnerabilidade. Guerras, pobreza e desigualdade social estão entre elas. Como psicóloga, como você avalia o contexto atual no que se refere às políticas públicas voltadas às crianças e aos adolescentes no Brasil? Temos avançado na proteção e na garantia de direitos?
Atualmente verificamos uma preocupação e uma divulgação de programas relacionados à proteção e à garantia dos direitos, por todo país, de crianças e adolescentes, tendo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como diretriz. Ressaltamos que infelizmente existem muitas lacunas para a eficiência da aplicação das políticas públicas, a exemplo falta de creche, ensino público eficiente, saúde eficaz. É certo que atualmente, apesar do esforço de órgãos responsáveis pelo desenvolvimento e administração das políticas públicas voltadas para a proteção de criança e adolescente, ainda temos muito que caminhar. Uma das dificuldades enfrentadas para a execução dos programas de proteção é o tamanho do território brasileiro, que apresenta necessidades peculiares de cada região, impossibilitando a aplicação de medidas uniformes e eficientes. Também temos a falta de conhecimento da sociedade sobre a problemática enfrentada por essas crianças e adolescentes e as consequências das mesmas. Exemplo disso é o número assustador de crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente e cometendo ato infracional que se tornam invisíveis diante da sociedade.
Quais são atualmente os principais desafios postos aos profissionais de Psicologia que trabalham com crianças vítimas de agressão? Existem peculiaridades na região?
O maior desafio é tornar a violência pública para que a rede de proteção possa efetivamente prestar auxilio a essas vítimas, uma vez que infelizmente a maioria dos agressores estão no âmbito familiar. É preciso conscientizar a população que crianças e adolescentes são sujeitos de direito e trabalhar com o empoderamento dos mesmos, possibilitando ressignificar toda violência sofrida.
Que habilidades ou competências um psicólogo deve desenvolver para atuar na área?
O psicólogo deve ter capacidade de ouvir o outro, deixando de lado ideias generalizadas sobre demanda, capacidade de identificar comportamentos e sinais emitidos pelas crianças e adolescentes em situação de violência, lidar com possíveis frustrações, conhecimento da rede de apoio e estar vinculado a ela.
Como você avalia hoje a articulação das redes de apoio no Distrito Federal para proteção da criança e do adolescente?
A rede de apoio no DF tem feito ações efetivas, entretanto existem obstáculos que impedem ações mais amplas, como a falta de comunicação entre os órgãos envolvidos na proteção e garantia de direito de criança e adolescente e a falta de conhecimento da sociedade civil relacionada ao papel dos órgãos de proteção integral da criança e do adolescente. Com fim de tornar a política pública efetiva no tange à proteção da criança e do adolescente no DF, a Defensoria Pública está implementando o Projeto de Atendimento Integrado – PAI, o qual prevê a atuação conjunta com os Conselhos Tutelares do DF. \r\n\r\nO que você diria para um profissional que pretende trabalhar com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade? O que a motiva diariamente a trabalhar na área?
Diria que ele precisa ter amor pela causa, um olhar diferenciado, entendendo as peculiaridades de cada caso, ter bom referencial teórico, conhecimento e articulação com a Rede de apoio do DF, além de focar na proteção integral da criança e do adolescente sem julgamento.