Por Meg Gomes *
Novembro: Mês dos Relacionamentos no CRP 01/DF
“Quando o dinheiro entra pela porta, o amor pula a janela”. Já ouviu essa frase? Não é senso comum. A literatura clínica aponta que boa parte das brigas entre casais advém do assunto finanças. Quando as finanças não vão bem, é natural que o casal brigue, que ocorram acusações de que um ou outro não sabe gerenciar as despesas, de não ganhar o suficiente para contribuir com as despesas e de não contribuir para o alcance dos sonhos do casal ou da família.Quando há harmonia financeira muitos problemas podem ser evitados entre os casais.
Cada um dos parceiros tem o seu “DNA Financeiro” e aprendeu a lidar de forma individual com o dinheiro sendo influenciado por contextos familiares, sociais e educacionais diferentes. Cada pessoa tem um perfil financeiro diferente, e ainda, pode estar lutando contra problemas financeiros de diversas naturezas, possivelmente agravados por constantes crises econômicas, desemprego, redução da renda, falta de educação financeira, entre outros motivos sociais e pessoais.
Finanças é assunto primordial em qualquer relacionamento, desde a época do namoro, e principalmente quando o namoro fica sério. No começo pode não ser fácil porque cada um tem uma vivência diferente em relação ao dinheiro, cada um tem um histórico de vida, mas o alinhamento é imprescindível para o sucesso da relação.
Quando estão solteiras as pessoas gastam seu dinheiro de uma forma, possuem o seu próprio gerenciamento financeiro, mas quando estão em comunhão, vivendo uma vida a dois, buscando um norte comum no futuro, o assunto finanças deve estar presente. De um namoro sério para a perspectiva de uma vida a dois em um casamento, é recomendado, inclusive, que se coloque no papel para ficar mais claro o diagnóstico atual e as perspectivas em conjunto do casal.
Muitas pessoas acreditam que falar sobre dinheiro no namoro é trazer racionalidade para um momento de muita paixão. Mas acreditem, sem falar em dinheiro essa paixão pode ser minada a qualquer tempo! Conversar sobre finanças, assim como outros assuntos que o casal julgue importante para conhecer melhor um ao outro, é primordial para o bem-estar e perpetuação da relação.
É importante conhecer como o outro lida com o dinheiro. Pode-se começar checando qual o nível de conhecimento que o outro tem em relação à suas finanças pessoais, se o outro recebeu educação financeira ou não, como era a relação dos seus pais com o dinheiro, como o outro organiza suas finanças, quais são os sonhos dele(a) e como ele(a) está planejando conquistá-los, o histórico de conquistas ou de aprendizados diante de comportamentos disfuncionais em relação ao dinheiro.A medida que o relacionamento caminha para a seriedade é relevante saber, inclusive, se as contas do outro estão em dia, se há poupança e investimentos, pois isso tudo pode impactar na decisão de uma vida a dois em conjunto.
Nos casos dos casais casados, o estilo de gerenciamento financeiro é fator importante na convivência conjugal. Quatro categorias de gerenciamento do dinheiro são identificadas na literatura: sistema de gerenciamento total dos gastos, em que todo o ganho salarial é gerenciado por um único cônjuge, exceto os gastos pessoais do parceiro; sistema de gerenciamento por mesada ou pensão, em que um dos cônjuges é o principal provedor financeiro; sistema de gestão compartilhada do dinheiro, em que ambos os cônjuges têm acesso ao dinheiro e ambos têm um papel ativo na tomada de decisões financeiras e sistema de gestão independente do dinheiro, em que cada cônjuge tem o controle individual sobre sua renda e compromissos individuais com as despesas da casa.Indiferente de quem é o provedor financeiro, o dinheiro está, em muitos casos, associado ao poder, fazendo com que aquele que tem sua posse sinta-se em posição superior.
Para além das situações de poder, e considerando que as contas de fato se tornam uma constante rotina na vida a dois, trazendo às vezes o estresse e o afastamento da intimidade do casal, destaca-se o sistema de gerenciamento independente do dinheiro em parceria com o sistema de gestão compartilhada, uma vez que é importante que cada pessoa em um casamento mantenha a sua individualidade, pois cada pessoa tem uma vida, seu trabalho, seus sonhos, e cada um sabe o que tem ou não para pagar. Ou ao menos deveria saber, partindo da premissa que desde o namoro o assunto dinheiro vem sendo dialogado e partindo da premissa de que o casal tem um planejamento financeiro familiar.
A dinâmica de cada casal é particular, mas estimula-se que cada parceiro tenha uma conta separada, mas que tenham sonhos em comum e que esses sejam conversados e construídos de forma planejada e com responsabilidades compartilhadas para conquistá-los.
Por fim, é imperioso ressaltar que o casal deve sempre dialogar sobre as finanças da casa, da família, do casale evitar a infidelidade financeira, na qual um parceiro mente para o outro, ou se percebe em um contexto no qual tenha que omitir, mentir ou alterar informações sobre sua realidade financeira, receitas, despesas e até seus sonhos. Essas situações exigem reflexão sobre o contexto da relação, seus antecedentes e as consequências para o relacionamento.
Não esconda do seu parceiro sua realidade financeira, não entre em uma onda frenética de gastos para agradar ou acompanhar o outro. Não entre em uma situação de inadimplemento, endividamento ou superendividamento para agradar o outro e esquecer de si mesmo(a). O acordado não sai caro e mantém as relações mais saudáveis e felizes.
* Meg Gomes Martins de Ávila é psicóloga clínica, organizacional (servidora pública do Conselho Nacional de Justiça), e terapeuta financeira, membro filiado da Associação Brasileira de Educação Financeira (ABEFIN).E também conselheira do CRP. Instagram: @megpsi