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NOTA DE PESAR PELO FALECIMENTO DE JOÃO PEDRO

NOTA DE PESAR PELO FALECIMENTO DE JOÃO PEDRO


“Maria não amava João.
Apenas idolatrava seus pés escuros.
Quando João morreu,
assassinado pela PM,
Maria guardou todos os sapatos.”
Lívia Natália

 

É com muito pesar que a Comissão Especial de Raça e Povos Tradicionais do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) informa que, nesta segunda-feira (18/05), João Pedro, de apenas 14 anos, foi morto por agentes das polícias Federal e Civil, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ).

João Pedro estava dentro de casa quando foi baleado na barriga e levado de helicóptero pela polícia, sem que sua família pudesse acompanhá-lo. Após o falecimento, seu corpo foi deixado no Instituto Médico Legal - IML, sem aviso aos familiares, que buscavam por notícias.

Mortes como a de João Pedro refletem uma sociedade que se estrutura através do racismo. No Brasil, 71,5%¹ das pessoas assassinadas são negras, que também representam 64%² da população prisional e apresenta desvantagens em relação à população branca nos indicadores de escolaridade, seguridade social e trabalho/renda (IPEA; SEPPIR, 2014). Esses dados são alarmantes, sobretudo em um país que constitucionalmente considera racismo um crime imprescritível e inafiançável.

Enquanto psicólogas e psicólogos, seguindo os princípios éticos da profissão, nós precisamos assumir o compromisso no enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade. Vale lembrar que temos a Resolução CFP 018/2002, que estabelece normas de atuação para as(os) psicólogas(os) em relação a preconceito e discriminação racial. A Psicologia não pode ser conivente ou se omitir frente ao racismo.

Entender o racismo enquanto estrutura social que tem mantido negras e negros em situações de vulnerabilidade social e sofrimento é imprescindível para uma atuação que tenha como eixo os Direitos Humanos e a luta antirracista. Faz parte do nosso compromisso ético-político nos responsabilizarmos e nos sensibilizarmos pela luta pela vida da população negra, para que vidas negras não sejam silenciadas. Por isso gritamos: Vidas negras importam!

 

 

Vidas negras importam

"João Pedro, nome que se mistura ao de Marcos Vinícius, que se mistura ao de Agatha, ao de Evaldo, que se mistura ao de Roberto, Carlos Eduardo, Cleiton, Wilton, Wesley que se misturam ao de Marielle. Todos corpos negros. Corpos periféricos. Corpos assassinados.
A mão do estado sangra.
Mas somos nós os chamados de suspeitos, bandidos e marginais.
Se engana quem pensa que a violência acaba com o corpo negro estendido no chão. Após a morte vem o silenciamento ou a difamação. Vem a dor da família que em meio ao pranto ainda precisa honrar seu nome, provar que o assassinato não foi merecido.
E existe morte merecida?
Quando o corpo é negro e periférico, então eles dizem que sim. Dizem que é para atirar primeiro e perguntar depois, é só mirar na cabecinha...
O genocídio do povo negro não começa com o gatilho da polícia. Começa com o sequestro e escravização dos povos africanos. Persiste na discriminação e exclusão social. Se sustenta no discurso racista. Se justifica com o chavão de que bandido bom é bandido morto. E na boca da elite alienada em sua brancura, bandidagem e negritude se tornam sinônimos.
E para nós, povo negro, Luto e Luta é que se tornam sinônimos. Chorar pelos nossos é lutar pelos nossos. Que as nossas vidas não sejam silenciadas! Por isso gritamos: Parem de nos matar! Vidas negras importam!"

Joyce J. D. Avelar - Psicóloga Preta (CRP 01/22564)

 

 

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¹ Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Fórum brasileiro de segurança pública – Atlas da violência, 2018.

² Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública; Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN), 2017.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA); SECRETARIA DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL . Situação social da população negra por estado. Brasília: [s. n.], 2014.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA); FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP). Atlas da Violência 2018. Rio de Janeiro, 2018.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA; DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL (DEPEN). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN)- Atualização Junho de 2016. Brasília, 2017.



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