A psicóloga Bia Campos, integrante do Movimento Passe Livre (MPL) no Distrito Federal, foi uma das profissionais convidadas pela editora Autonomia Literária para o ciclo de debates sobre mobilidade antirracista promovido em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e entidades parceiras.
O ciclo marca o lançamento do livro "Mobilidade Antirrascista", organizado por Daniel Santini, Rafaela Albergaria e Paíque Duques Santarém, doutorando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB) e membro do MPL que mediou o debate realizado no último sábado (05).
A psicóloga refletiu sobre o lugar do negro na sociedade brasileira e seu reflexo sobre a construção das subjetividades: "a gente, como população negra, tem vivido em trânsito forçado há muito tempo, desde o continente africano para construir o Brasil dos colonos até hoje, vivendo o cotidiano de trânsito das periferias e dos lugares que são a nossa casa, para os lugares onde vamos produzir o sustento da família, sustentar essas estruturas, esse modo de vida que é o capitalismo", observa.
Bia Campos destacou a realidade do Distrito Federal e do entorno, ressaltando a forma como é marcado o território do preto e do branco, assim como a separação da vida social e do local de trabalho: "Vamos até o centro para produzir e depois voltar para o nosso território, o que cabe no nosso bolso e onde conseguimos nos manter", pontuou, destacando estudo da Codeplan que registra grande percentual de mulheres negras entre as/os trabalhadores dependentes do transporte público coletivo.
Bianca aponta que o enfrentamento a esta conjuntura deve ser sistêmico e multidimensionado, promovendo o laço comunitário e a construção de poder popular como resposta ao modo de vida colonial, o que também atravessa a construção de cuidado e escuta clínicas e a universalização do direito ao transporte através da gratuidade, ferramenta de promoção do acesso à outros direitos.
O ciclo de debates chama a atenção para como ficou ainda mais nítido, durante a pandemia, como o racismo sustenta as estruturas exploradoras da sociedade brasileira. Enquanto a saída apontada por especialistas para se proteger da Covid-19 era ficar em casa, sem garantias de trabalho ou auxílio digno do governo, pessoas negras, pobres e das periferias seguiram fazendo a cidade andar, colocando suas vidas em risco para não morrer pela epidemia da fome.
Participaram ainda do último debate, Vitória Murta, Eveline Duarte e Anana Oliveira, da Agenda Pelo Desencarceramento, e Nego Bispo da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas no Estado do Piauí (CECOQ).
Você pode assistir ao vídeo do debate na íntegra em:
https://youtu.be/cqyBxI5NCWW