O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) realizou, no dia 9 de junho, a roda de conversa on-line "Atuação de psicólogas/os junto aos povos indígenas”. O evento foi organizado pelo Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop) no CRP 01/DF e teve como objetivo coletar contribuições para a consulta pública do Sistema Conselhos de Psicologia que resultará na produção de documento com referências para atuação de psicólogas/os junto aos povos indígenas nas diversas regiões do País.
No Distrito Federal, o evento contou com profissionais com vasta experiência de atuação em contextos indígenas e no atendimento público em saúde mental, com integrante da comissão responsável pela elaboração da referência técnica, com psicólogas/os indígenas, estudantes de Psicologia e psicólogas/os interessadas/os na temática. Participaram também a conselheira presidenta Thessa Guimarães, o conselheiro Artur Mamed e a técnica do Crepop no CRP 01/DF, Adélia Capistrano.
Fernando Pessoa, doutor em Saúde Coletiva e Referência Técnica do Departamento de Atenção à Saúde Indígena, chamou atenção para aspectos epistemológicos e normativos do documento. Ele discorreu sobre a necessidade de aproximação das cosmovisões e processos de subjetivação que se desenrolam em contextos indígenas, oferecendo contribuições também quanto ao fenômeno do suicídio indígena.
Thaynara Sipredi, psicóloga indígena Xerente e integrante da Comissão Especial de Raças e Povos Tradicionais do CRP 01/DF, sugeriu maior aprofundamento e aproximação crítica do texto em relação a temática do gênero na perspectiva indígena. A profissional abordou a necessidade de se compreender o contexto e o histórico da realidade dos povos indígenas como fator de adoecimento, a diferença sobre a relação com a natureza não hierarquizada e a necessidade de se incluir a atuação da Psicologia junto a povos indígenas no contexto urbano.
Jaqueline Medeiros Calafate, psicóloga, doutoranda, especialista e referência técnica em saúde indígena e saúde coletiva, sugeriu ao documento uma maior evidenciação ao público a quem ele se endereça, visto o importante papel de profissionais de Psicologia que atuam em contexto indígena. A psicóloga ressaltou que a invisibilidade que os povos indígenas sofrem é absorvida pelas/os trabalhadoras/es da saúde indígena, que mesmo sem parâmetros para a atuação, se reinventam em suas práticas. A especialista destacou a importância do documento em construção frente a uma Psicologia que negligenciou seu olhar para as subjetividades indígenas por muito tempo.
Durante a roda de conversa, as/os participantes problematizaram a citação do Estatuto do Índio como marco das políticas públicas, visto seu caráter obsoleto que previa a tutela da Funai sobre os povos indígenas. Os presentes salientaram que a lógica tutelar deve ser questionada como ponto importante sobre o papel da atuação de psicólogas/os, de modo a evitar uma prática colonizatória que sirva como instrumento de opressão e aprisionamento dos povos indígenas.
Edinaldo Rodrigues, psicólogo indígena do povo Xucuru, trouxe o desafio de se reconhecer e alcançar a ampla diversidade da dimensão intercultural dos povos indígenas. Nesse sentido, o documento orientador foi visto por ele como o início de um caminho para aprimorar a atuação de psicólogas/os indígenas e não indígenas.
As contribuições levantadas pelos presentes estão sendo sistematizadas pelo Crepop no DF e serão enviadas para apoiar a composição de referência técnica.