.png)
Queridas psicólogas e queridos psicólogos do Distrito Federal,
Há décadas em que nada acontece, mas há semanas em que décadas acontecem, e vivemos uma delas.
Nos últimos dias, o mundo assiste angustiado ao processo eleitoral brasileiro, do qual todas e todos nós participamos à nossa maneira: seja no exercício constitucional do voto, por meio da campanha ativa para nossos candidatos, ou através de nossa omissão.
Lideranças políticas mundiais, grandes veículos de comunicação e intelectuais consagrados do chamado primeiro mundo tem tomado posição e convocado brasileiras e brasileiros à responsabilidade que nos cabe nesta semana histórica. Eles apontam que, nos próximos anos, o desmatamento da Amazônia, pulmão da Terra, pode atingir um ponto de inflexão sem retorno, transformando-se em breve numa savana, condenando a humanidade à extinção. Eles veem o Brasil de 2022 como um laboratório do que acontece quando aqueles que elegemos desmantelam ativamente as instituições destinadas a reduzir a pobreza e a fome, proteger a saúde pública, impulsionar o conhecimento científico, e defender a justiça e a integridade das evidências.
O fenômeno da inverdade como propaganda não nasceu agora. Em diferentes momentos históricos, governos autoritários constroem mecanismos complexos e organizados de desinformação. A mentira institucionalizada é ingrediente fundamental dos regimes anti-povo. Eles destroem, exploram, violam e matam enquanto afirmam fazer todo o contrário. A mentira em escala estatal confunde, oprime e intima as subjetividades a desacreditar na realidade concreta. A mentira desorienta e massacra, junto com a fome, o desemprego e a miséria de milhões de irmãs e irmãos brasileiros.
A Psicologia é um poderoso campo de cuidado das subjetividades e da vidas. Estamos em milhares de políticas públicas e somos profissionais que cuidam, participam e constroem estratégias para o bem-viver das pessoas e comunidades. Pertencemos ao Sistema Único de Saúde, Sistema Único de Assitência Social, atuamos em presídios, hospitais, escolas e no seio das comunidades. Participamos de grandes debates nacionais e somos guardiãs e guardiões da saúde mental da população brasileira. Devemos combater a privatização e mercantilização da política nacional de saúde mental. Temos um projeto abolicionista para o País, e concretamente atrapalhamos o avanço das tendências neocoloniais brasileiras.
Nos princípios fundamentais do nosso Código de Ética, somos instadas a atuar com responsabilidade social, analisando criticamente a realidade política, econômica, social e cultural em que vivemos. Nosso trabalho deve se basear na promoção da dignidade e da igualdade dos seres humanos. É nosso dever profissional zelar pela justiça social. É nossa tarefa contribuir para eliminar quaisquer formas de crueldade e opressão. A Psicologia brasileira é composta por quase meio milhão de cidadãs e cidadãos que estão, por princípio, comprometidas com tais missões. No Distrito Federal, somos 14172 psicólogas e psicólogos submetidos a tais incumbências.
Que estejamos acompanhadas do Código de Ética da Psicóloga e do Psicólogo nos próximos dias e pelo tempo que vivermos! Louvemos em nossas palavras e gestos a Constituição Federal de 1988, que nos intima a construir uma sociedade livre, justa e solidária; que nos exige garantir o desenvolvimento nacional, que nos ordena erradicar a pobreza no Brasil. Sejamos leais ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Tiremos devidas consequências da trágica milicianização da política institucional brasileira.
A Psicologia tem um explícito projeto de sociedade. Cabe-nos honrá-lo nestes últimos dias de outubro.
O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal celebra o Estado Democrático de Direito e faz votos de que nosso campo protagonize a maior batalha da vida brasileira desde a derrota da ditadura militar.
Viva o povo trabalhador brasileiro!