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ARTIGO: A CONTRIBUIÇÃO DE NOSSAS ATLETAS OLÍMPICAS À PSICOLOGIA

ARTIGO: A CONTRIBUIÇÃO DE NOSSAS ATLETAS OLÍMPICAS À PSICOLOGIA


Por Iuri Sivinski Petry (CRP 01/25511)*

Nos últimos dias, nossas atletas brasileiras estão recebendo muita atenção ao redor do País. Não é em vão, já que das 14 medalhas totais conquistadas até agora, 10 foram nas mãos femininas. Em especial, a skatista Rayssa Leal e a ginasta Rebeca Andrade fizeram importantes comentários sobre a Psicologia na vida delas.

Ambas reconhecem a relevância do acompanhamento psicológico na vida delas. Com tanta representatividade nacional, seus relatos impactam nossa sociedade a refletir como a Psicologia é experienciada no Brasil. Em torno de perspectivas que não compactuam com o nosso trabalho (como “Psicologia é só pra doido”; “eu não preciso disso, tenho minha família e minha religião”; “quem faz terapia é quem não tem força de vontade, isso é frescura”), os relatos das garotas demonstram não só o efeito da Psicologia na saúde mental, como na própria preparação profissional – no caso delas, a esportiva.

Podemos então discernir a Psicologia Clínica da Psicologia do Esporte como áreas de atuação. A Psicologia do Esporte é uma vertente que tem diversos focos de atuação, sendo o mais conhecido deles o do alto rendimento, onde o objetivo principal é desenvolver competências psicológicas e regulação emocional para aperfeiçoar a performance esportiva e dirimir efeitos adversos que possam afetar negativamente o desempenho.

Além disso, existe sua atuação para práticas de tempo livre, iniciação esportiva, projetos sociais, reabilitação e esporte escolar, como apresenta Rubio (2007)**, tendo cada uma delas objetivos de atuação mais específicos. Mesmo assim, independente do foco de atuação, o esporte e a atividade física são sempre fatores que permeiam a prática da Psicologia do Esporte. Isso não é uma necessidade na prática da Psicologia Clínica, onde o sujeito entrará em contato com as temáticas de sua vida de forma íntegra, variando o foco de acordo com a demanda clínica.

Na Psicologia do Esporte, todos os assuntos podem sim ser abordados: família, relacionamentos, amizades e qualquer outro assunto de relevância que o atleta ou a equipe técnica apresente. Entretanto, esses assuntos não são abordados por uma perspectiva clínica. Eles recebem a devida atenção pela escuta ativa e, em casos mais delicados, a psicóloga do esporte deve encaminhar a uma psicóloga clínica.

Existe, ainda, uma atuação clínica dentro da Psicologia do Esporte. Ainda assim, essa atuação se difere da atuação geral da Psicologia Clínica por ainda ter como escopo de atenção principal a relação do sujeito com sua prática esportiva.

Pelo relato das nossas exímias atletas, não é possível ter a certeza se a psicóloga que elas comentam é necessariamente uma psicóloga do esporte ou apenas clínica. O que temos como parâmetro é: Psicologia do Esporte não é terapia, mesmo que a profissional em Psicologia do Esporte possa realizar terapia em sua atividade. Então, pelo fato das garotas terem comentado sobre “terapia”, podemos supor que a atuação que elas recebem é clínica. E é claro que elas falam sobre a profissão delas em suas terapias, e isso facilita que elas encontrem melhores formas de lidar com a pressão (como comentado pela Rebeca) e com o fato de ser muito nova e com tanta visibilidade (como comentado pela Rayssa). 

Por fim, o que entendemos é o seguinte: as atuações da Psicologia do Esporte e Psicologia Clínica são diferentes. Existem diferentes focos de atuação que a Psicologia do Esporte pode oferecer. A presença de uma terapia em Psicologia Clínica não exclui a importância de um acompanhamento em Psicologia do Esporte, e vice-versa. Elas, inclusive, se complementam, visto que ambas trabalham em focos e perspectivas diferentes. Além disso, independente da idade, a Psicologia do Esporte atua tanto com atleta, quanto sua família e equipe técnica, oferecendo um trabalho integral esportivo – enquanto na Psicologia Clínica a atuação é mais restrita à paciente, no geral.

Ficamos extremamente felizes com o reconhecimento dessas atletas renomadas em uma representação tão significativa nacional, em contrapartida do que presenciamos na Copa do Mundo de Futebol de 2022, onde a atuação de Psicologia Esportiva foi negada pela própria seleção. Não somente a Psicologia foi importante em perspectiva de saúde mental para nossas atletas, como elas mesmas reconhecem a relevância da Psicologia em seus resultados nas competições. De toda nossa classe de profissionais de Psicologia, nosso muito obrigada, Rayssa e Rebeca!

Assista ao comentário da ginasta Rebeca Andrade à TV Globo: https://www.youtube.com/watch?v=-He1tju3dlI

Assista à entrevista concedida pela skatista Rayssa Leal à Band Esportes: https://tv.uol/1AT5J

*Iuri Sivinski Petry (CRP 01/25511) é psicólogo clínico e esportivo (UnB), pós-graduado em Psicologia do Esporte e Neurociências (PUC-PR), psicólogo supervisor na equipe esportiva UnB Green Owls, coordenador do Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e do Exercício (GEPEE) e coordenador da Comissão de Psicologia do Esporte e do Exercício do CRP 01/DF.

**RUBIO, Katia. Da Psicologia do Esporte que temos à Psicologia do Esporte que queremos. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, v. 1, n. 1, p.1-13, 2007.

#DescreviParaVocê: a imagem colorida conta com uma chamada para leitura do artigo além da marca gráfica do CRP 01/DF e de uma fotografia do autor, Iuri Sivinski Petry, um homem branco de cabelos grandes, barba e bigode castanhos, utilizando um piercing no nariz, uma blusa estampada e sorrindo virado para a frente.



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