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12 DE AGOSTO: DIA DE LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA NO CAMPO

12 DE AGOSTO: DIA DE LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA NO CAMPO


 

| 12 de agosto: Dia de Luta contra a Violência no Campo |
 
Confira a entrevista com o diretor de saúde do MST nos estados MG, GO e DF, Luiz André Lima

 

A violência contra populações do campo é grave e frequente. Para se ter uma ideia, ao ser convidado para este diálogo com o Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal, o agente popular de saúde do campo, Luiz André Lima, precisou se deslocar para ajudar a socorrer um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em conflito, na região de Vila Boa, Goiás. Ele informou que todas as famílias já estão fora de risco e protegidas pela rápida capacidade de organização do povo mobilizado. Essa foi, no entanto, só uma das constantes situações de violência que se vê no campo. 


Diante desse cenário preocupante e para marcar a luta por direitos básicos das populações campesinas, o dia 12 de agosto passou a ser conhecido como o Dia de Luta contra a Violência no Campo. Sobre isso, Luiz André Lima conversou com o CRP 01/DF. Ele está na militância do MST há 11 anos e, neste momento, atua na direção estadual do setor de saúde do MST nos estados de Minas Gerais, Goiás e aqui no Distrito Federal.

 

Confira a entrevista: 

 

CRP 01/DF: Como é a realidade de violência de direitos humanos enfrentada por pessoas do campo, que motiva o marco da data de 12/08, Dia de Luta Contra a Violência no Campo?
Luiz: As situações de violência no campo ocorrem de várias formas, como por meio do preconceito contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra. Também ocorre preconceito contra os povos indígenas e quilombolas. Além disso, podemos citar as frequentes violências policiais contra trabalhadoras(es) e também os últimos confrontos contra povos indígenas, quilombolas e pessoas trabalhadoras rurais sem terra. Todas essas violências ocorrem no campo, nas lutas por territórios, pelo direito à reforma agrária e pela demarcação de terras indígenas. Toda essa luta gera conflito e atinge os direitos básicos e humanos. É uma luta frequente por direitos já estabelecidos, por isso a data de 12 de agosto é lembrada como o dia que marca as lutas contra as violências no campo.

 

CRP 01/DF: Quais são os desafios enfrentados pela população do campo no acesso ao direito a saúde e a políticas públicas para o bem viver?
Luiz: A população do campo comumente passa por dificuldade de acesso às cidades e aos serviços básicos por questões de transporte. Por muitas vezes, precisam percorrer grandes distâncias, por situações de comunidades isoladas, como é o caso de vários dos territórios indígenas, quilombolas e ribeirinhos, assim como também de populações de trabalhadoras(es) extrativistas, de pescadores e todas as comunidades tradicionais que moram distantes das cidades e, por esse motivo, muitas vezes têm dificuldade de acesso aos atendimentos de saúde, por exemplo. Por essa razão, é de extrema importância defender o Sistema Único de Saúde (SUS) e lutar para que haja mais recursos, de forma que o atendimento chegue até essas comunidades mais isoladas, através de barcos e outros meios de transporte.

 

CRP 01/DF: De que forma o direito ao território se relaciona com a saúde mental de pessoas do campo?
Luiz: O direito ao território é uma ação importante no campo e na cidade. Hoje lutamos por vários direitos que deveriam ser garantidos, como o direito à saúde mental, como a importância dos Centros de Apoio Psicossocial, os CAPS, que estão geralmente na cidade e são um membro do SUS. Esses Centros são muito importantes no atendimento e tratamento de pessoas com algum sofrimento mental. Eu sou usuário do CAPS e o apoio e defendo como um importante local de acolhimento. Além disso, eu defendo o tratamento de qualquer transtorno ou outras questões de saúde mental, por isso a importância de defender o SUS e ações de saúde mental em todo Brasil.


CRP 01/DF: Como tem sido sua experiência como coordenador de saúde do MST? Quais são as demandas que tangem a Psicologia no seu fazer?
Luiz: Minha atividade de coordenação estadual do setor de saúde do MST tem como tarefa principal lutar por uma saúde pública melhor, por um SUS fortalecido, além de estudar e multiplicar a saúde que foi passada de geração em geração por nossos ancestrais, com o uso de fitoterápicos. A saúde tradicional natural é a principal tarefa do setor de saúde do MST. A saúde mental, por sua vez, é uma questão importante na luta pelo direito à saúde, principalmente nas áreas rurais, de acampamento e assentamento que o setor de saúde do MST ajuda e orienta as famílias ali presentes e que venham a ter alguma questão de saúde mental. O tratamento costuma ser encaminhado ao CAPS mais próximo, sendo uma tarefa muito desafiadora, primeiramente pelas várias dificuldades que passamos no dia a dia em um acampamento Sem Terra. Eu moro no acampamento há 9 anos, estou acampado na luta por reforma agrária e pelo direito de plantar alimentos, direito a alimentação saudável, sem o uso de agrotóxicos. Assim, o direito à terra é uma luta bastante cansativa, mas muito importante. Além da luta por saúde, educação, cultura e vários direitos que deveriam já estar garantidos, também contamos com a solidariedade, por meio das doações de alimentos.

 

CRP 01/DF: Na sua opinião, de que forma a psicologia pode contribuir de maneira mais profunda com os povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e camponesas, não só em relação ao acolhimento e atendimento psicoterapêutico, mais também em termos de um comprometimento com o destino e com o protagonismo político dessas populações?
Luiz: Na minha opinião, a Psicologia é uma peça fundamental na saúde pública, como também pode contribuir com ações de conscientização, com formas de tratamento livre através dos CAPS, com o tratamento humanizado e com várias atividades de terapia ocupacional para a melhoria das pessoas com alguma questão de saúde mental ou transtorno ou outro sofrimento, além de ajudar pessoas com problemas de alcoolismo ou pessoas com os problemas advindos do uso abusivo de substâncias químicas. A Psicologia é importante e fundamental na saúde e na vida de todos os brasileiros, principalmente,  
nas comunidades tradicionais, Indígenas, Ribeirinhas, e de trabalhadoras e trabalhadores do campo. Essas comunidades ainda passam por dificuldades no acesso aos centros de saúde mais próximos da rede de atendimento do SUS. Enfatizo que as comunidades mais isoladas têm bastante dificuldade no acesso à saúde pública, seja por falta de condições financeiras, ou de transporte. Por isso a importância de os usuários da rede pública fazerem parte dos conselhos de saúde, na perspectiva de luta e de proposições de melhorias no SUS, e assim estarem no protagonismo das lutas por seus direitos e pelo acesso a políticas públicas.



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