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| 21/01: DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA | ARTIGO: INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

| 21/01: DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA | ARTIGO: INTOLERÂNCIA RELIGIOSA


Intolerância religiosa

Por Luciano de Sá 

A intolerância religiosa é uma forma de violência psicológica e social que afeta profundamente a saúde mental das pessoas que a vivenciam. Essa violência pode se manifestar de diversas formas: desde comentários preconceituosos e microagressões até ataques diretos e sistemáticos, que desrespeitam a crença e a identidade religiosa do indivíduo.

Na Psicologia, nosso compromisso ético com a promoção da saúde e qualidade de vida exige que compreendamos os impactos dessa opressão e atuemos para mitigá-los. O Estado brasileiro é laico. A Psicologia brasileira é laica. Todavia, em sua realidade estatística no Brasil, a cultura cristã tem forte expressão, inclusive no recente censo da Psicologia em 2022, podemos observar que protestante e católica lideram as escolhas das(os) psicólogas(os/es) em relação a religião. Assim, refletir sobre intolerância religiosa a partir de uma visão crítica e autocrítica é salutar.

A(o) psicóloga(o/e) tem o direito de escolher e aderir a uma religião. No entanto, isso não lhe reserva a prerrogativa de impor sua escolha a seu paciente em caso de atendimento clinico. Nesse tipo de atendimento, por exemplo, recomenda-se uma postura acolhedora e não punitiva. Logo, utilizar manobras intelectuais que deslegitimam a escolha religiosa de um paciente é um tipo de micro-violência.

Católicos e protestantes talvez não experimentem o teor da intolerância religiosa que é voltada a adeptos das religiões de matriz africana. Tal intolerância pode gerar sentimentos de medo, insegurança, isolamento social e humilhação. Indivíduos que sofrem esse tipo de discriminação frequentemente relatam ansiedade, estresse crônico e depressão, além de traumas psicológicos relacionados à repetição de situações de opressão.

Em pesquisa rápida na internet, podemos ter acesso a diversos casos em que templos (terreiros) são atacados e têm seus símbolos e estruturas incendiados. Em 2015, Kayllane Campos, na época com 11 anos, foi ferida por pedras arremessadas a ela quando saía de uma cerimônia de Candomblé acompanhada de seus familiares, todos vestidos com roupas brancas típicas. De acordo com a matéria publicada, os agressores gritavam: “É o diabo! Jesus está voltando!”

A(o) profissional de Psicologia no Brasil tem a obrigação de conhecer, respeitar e aplicar o que dita nosso Código de Ética, que em seus princípios fundamentais determina: 

“II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

A intolerância religiosa é um tipo de discriminação que pode escalar a níveis de opressão e crueldade com potencial de causar danos consideráveis na saúde mental de quem sofre esse tipo de violência. Não é de se espantar que racismo e intolerância religiosa andem juntos. Entretanto, a Psicologia brasileira possui caminhos possíveis a profissionais que buscam práticas éticas, sensíveis às dinâmicas culturais, emancipatórias e propositivas.

Além do nosso Código, há publicações, resoluções e referências técnicas que podem municiar com eficácia nossa atuação. A intolerância religiosa não é apenas uma violação de direitos mas, uma ameaça à saúde mental e à dignidade humana. Como psicólogas(os/es), temos o dever ético de atuar de forma ativa na promoção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa, que reconheça a pluralidade religiosa como uma riqueza e não como uma ameaça. A promoção da saúde e da qualidade de vida exige um compromisso inequívoco com a eliminação de todas as formas de violência, discriminação e opressão.


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