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DESAFIOS E AVANÇOS NA CONSTRUÇÃO DO PLANO TERAPÊUTICO SINGULAR EM UMA PERSPECTIVA INTERSETORIAL

DESAFIOS E AVANÇOS NA CONSTRUÇÃO DO PLANO TERAPÊUTICO SINGULAR EM UMA PERSPECTIVA INTERSETORIAL


Por Glacy Daiane Barbosa Calassa (CRP 01/16290)*

Publicado originalmente em 02/08/2019

Esse artigo aborda a experiência exitosa na elaboração de Planos Terapêuticos Singulares (PTS) na perspectiva intersetorial realizada no Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD) de Santa Maria.

O Projeto Terapêutico Singular consiste em um instrumento que pactua com o que há de inovador na área de saúde mental. Ele introduz o princípio de coparticipação, corresponsabilização e de cogestão do processo terapêutico, seja um sujeito individual ou coletivo (Brasil, 2007; Oliveira, 2007). É um dos principais instrumentos de trabalho interdisciplinar dos CAPS AD, pois possibilita o trabalho colaborativo entre equipe, paciente e família. Além do mais, permite o desenvolvimento da autonomia e do empoderamento do usuário e da sua família (Carvalho et al., 2012).

A importância desse tema se dá pelo fato de que a complexidade da dependência química exige dos CAPS AD planos terapêuticos que sejam verdadeiramente intersetoriais. Somente o CAPS ou a rede de saúde são insuficientes para dar conta do tratamento da dependência química. Nesse sentido, é preciso unir forças. A rede social do indivíduo é fundamental para esse processo de promoção do bem-estar e do fortalecimento dos potenciais de mudança. A equipe do CAPS AD de Santa Maria tem percebido na sua prática cotidiana que o indivíduo com problemas em relação ao uso abusivo de álcool e outras drogas se constrói e se reconstrói no seu próprio território. Sendo assim, as questões enfrentadas pelos CAPS AD não se referem unicamente ao usuário, mas ao sistema do qual ele faz parte. Temos buscado a construção de planos terapêuticos voltados para a promoção da saúde e cidadania que envolvam outros parceiros para realizar intervenções que alteram a subjetividade do indivíduo.

É verdade que em muitos momentos existem vários desafios impostos aos profissionais de saúde para caminharem em direção à intersetorialidade, como a dificuldade logística, falhas de comunicação e preconceitos que ainda existem em relação ao paciente usuário de álcool e outras drogas. Entretanto, essas questões têm sido dribladas recorrendo a parcerias, inserindo o paciente nos dispositivos de seu território e realizando encaminhamentos referenciados, para que não seja reproduzida a lógica manicomial de atender o sujeito de forma isolada e setorial.

Campos (2009) afirma que o grande desafio na elaboração do Projeto Terapêutico Singular consiste em captar a singularidade do sujeito, conseguir compreendê-lo e fazer uma proposta de tratamento adequada para cada situação de vida. Para que isso ocorra, é necessária mudança epistemológica, de valorização do sujeito e de suas escolhas, da equipe conseguir trabalhar na lógica da equipe interdisciplinar e valorizar outros saberes da comunidade como conhecimentos válidos e úteis no tratamento.

Dentro dessa perspectiva, o CAPS AD de Santa Maria trabalha com uma visão que compreende o usuário como protagonista e sujeito em sua totalidade, pois percebemos o quanto é complexo essa rede se estabelecer na prática. Assim, pactuamos com o posicionamento de Gonçalves e Guará (2010) de que não basta orientação ou cartilhas elaboradas pelo Ministério da Saúde, mas de uma nova cultura, na qual o pensamento sistêmico esteja presente. Essa nova cultura tem sido trabalhada cotidianamente, tanto nas intervenções, no contato com a rede, como na própria reunião de equipe, para que “ranços” antimanicomiais não persistam velados em atuações do dia a dia.

Referências bibliográficas

CAMPOS, G. W. de S., & DOMITTI, A. C. (2007). Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cadernos de Saúde Pública, 23(2), 399–407. doi:10.1590/S0102-311X2007000200016

CARVALHO, L. G. P. de, MOREIRA, M. D. de S., RÉZIO, L. de A., & TEIXEIRA, N. Z. F. (2012). A construção de um Projeto Terapêutico Singular com usuário e família: potencialidades e limitações. Retrieved from http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/95/15.pdf

GONÇALVES, A. S., & GUARÁ, I. M. R. (2010). Redes de proteção social na comunidade. In Redes de proteção social (1a ed., p. 96). São Paulo: Associação Fazendo História : NECA - Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente.

OLIVEIRA, G. N. de. (2007). O projeto terapêutico como contribuição para a mudança das práticas de saúde (dissertação de mestrado). Universidade Estadual de Campinas. Retrieved from http://www.pucsp.br/prosaude/downloads/bibliografia/projeto_terapeutico_singular.pdf

*Glacy Daiane Barbosa Calassa (CRP 01/16290)

Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Graduação em Psicologia e em Pedagogia. Especialista em Terapia Cognitiva pelo Instituto de Terapia Cognitiva (ITC-SP) e Especialista em Educação para Diversidade e Cidadania pela Universidade Federal de Goiás (UFG-GO). Atualmente atende em consultório particular e é servidora pública da Secretaria de Saúde, atuando no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD II) de Santa Maria. Possui experiência na área de Saúde Mental, Dependência Química, Docência, Psicologia Escolar, Aprendizagem, Inclusão Social e Psicologia Comunitária.