Por Lusilânea Parreira Souza (CRP 01/20229)*
Publicado originalmente em 19/08/2019
Antes de se aprofundar no título proposto neste artigo, é importante entender e analisar algumas palavras. Quando falamos de dor, logo lembramos daquela topada do dedo na quina do sofá ou na perda repentina de alguém muito especial em nossas vidas, mas a dor não é só isso, ela é um mecanismo de defesa do corpo, pode ser uma criação mental, porém em todos os casos de dor podemos afirmar que ela também é uma mensagem ao corpo de que algo não está bem. O emocional apresenta-se quando estamos sozinhos ou acompanhados, ele é uma resposta instintiva que temos quando passamos por diversas situações, sejam elas boas ou ruins. As nossas emoções são primordiais para existência, sem elas a vida não tem sentido. A cura é o restabelecimento da saúde, e há várias maneiras de buscá-la. Lembra-se da cena de circo onde um homem andava sobre uma corda suspensa? Ele podia usar uma longa vara ou os próprios braços abertos para ter equilíbrio. Assim como o equilibrista, é possível afirmar que encontrar o equilíbrio não é algo fácil, pois constantemente estamos oscilando ou desviando de situações e emoções que permeiam nossas vidas. O corpo e espirito possuem diferentes visões em relação a ciência, religião e filosofia. Em geral, o corpo é a estrutura física de um organismo vivo, pode ser de um homem ou de outro animal. O espírito é a parte imaterial que pode ter manifestação interna (algumas pessoas chamam de alma) ou externa (relacionada a um ser supremo).
Além da forma física, para observarmos um ser humano em sua completude é importante considerar os seus sentimentos, percepção, conexões neurais, sua consciência, o ambiente no qual está inserido e compreender que ele está em constante transformação, nada é fixo e nada é permanente. Essa estruturação é uma perspectiva Budista, que com o crescimento da Terceira Onda da Terapia Cognitivo-Comportamental, há estudos que legitimam alguns conhecimentos que antes pertenciam somente à religião, e atualmente contribuem para novas teorias e técnicas que ajudam no processo terapêutico e têm apresentado resultados satisfatórios para o terapeuta e principalmente para o cliente/paciente.
Independente da abordagem psicológica que esteja sendo aplicada no processo terapêutico, todas trabalham para o bem-estar e equilíbrio temporal do cliente/paciente, algumas trabalham perspectivas do passado para que possa compreender melhor o presente, outras planejam ações para serem aplicadas no futuro, trazendo segurança e planejamento para o presente, e ainda tem aquelas que lidam com fenômenos existentes em tempo real, destacando o aqui e agora. Na tríade temporal (passado-presente-futuro) é possível destacar que pessoas ligadas ao passado, apresentam resistência para a mudança, pode ter alguma dificuldade em relação a algo no âmbito dos sentimentos ou traumas vividos, que no presente lhe causam sensações semelhantes. Com medo e angústia, apresenta dificuldade em viver o momento do aqui e agora. Ter uma projeção para o futuro também pode ser adoecedor se só para ele for olhado, pode lhe causar ansiedade, trazendo para a vida a procrastinação e a frustração.
Nas livrarias, as prateleiras estão cheias de livros coloridos e brilhantes garantindo felicidade e sucesso. Mas afinal de contas, onde está a felicidade? E o que é felicidade? Ela é subjetiva, e só pode ser encontrada em um único lugar: no presente. Depressão e ansiedade parecem caminhar de mãos dadas nos dias de hoje. Estamos cada vez mais nostálgicos, dizendo que no passado éramos felizes, outros sofrem e se sacrificam, acreditando que o futuro irá lhes trazer prosperidade.
As dores corporais e emocionais se confundem em nossa atualidade com a má utilização da tecnologia. É possível observar que problemas familiares, de relacionamento conjugal, tensões causadas por condições de trabalho e relacionamentos sociais têm aparecido como dores de coluna, pescoço, pernas, mãos etc. Esta somatização pode levar pessoas a desencadear doenças que podem avançar e tornar-se autoimunes.
Assim como o corpo sabe percorrer o caminho do adoecimento, ele também pode encontrar a direção da cura e se beneficiar com as vantagens de ser saudável. Esses caminhos existem. O primeiro se chama aceitação: quanto tempo gastamos tentando mudar as pessoas e coisas a nossa volta? E quando conseguimos mudá-las, perdemos o interesse e reclamamos que antes da mudança era melhor. Aceitar é diferente de se conformar ou se acostumar. Quando há a aceitação, a energia vital é canalizada para a automudança, você compreende a limitação da pessoa ou dos fatos e pode desenvolver estratégias para melhor lidar com a situação sem que haja um esgotamento mental e emocional.
O perdão é o segundo caminho. Muitos dizem que é a estrada mais difícil, porém a paisagem é mais bonita, pois ao chegar nele, há correntes que são pesadas e limitam os pés e as mãos. Para se libertar dessas amarras, é preciso pedir a chave para aquele que mais te feriu. Existem mordaças que nos impedem de pedir perdão: orgulho, rancor e mágoa. Alguns de nós têm facilidade para perdoar, outros nem tanto, e geralmente são os que mais adoecem. E, ao sair do aprisionamento do não perdão, descobrem que as correntes não eram propriedade do outro, mas sim, de si mesmo.
O último caminho, e o mais importante é a gratidão. Ser grato aos acontecimentos bons e ruins faz com que se estabeleça a resiliência, humildade e sabedoria, pois a evolução está na gratidão àquilo que se tem e pelo que não consegue mudar.
Talvez a pergunta a ser feita seria: O quanto estamos dispostos a nos curar? Com a minha pouca experiência como psicóloga, percebo o quanto é difícil para algumas pessoas se desapegar de suas dores, pois acreditam que o sofrimento já faz parte de sua personalidade, e muitos que foram oprimidos quando são presenteados com a liberdade, querem se tornar opressores. Mas este não é o caminho ideal a seguir.
*Lusilânea Parreira Souza (CRP 01/20229)
Palestrante e Terapeuta Clínica, Graduação em Marketing, Psicologia e Pós-Graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental.