Atualizado em 08/03/2021
Os fenômenos humanos, como é o processo de ensino-aprendizagem, ocorrem em determinados contextos, a partir de possibilidades materiais e culturais organizadas historicamente pela sociedade. Nesse sentido, entendemos que os processos escolares são perpassados e constituídos por aspectos econômicos, políticos, culturais, sociais, ou seja, se constituem e estão intrinsecamente vinculados à realidade social. Assim, considerando o momento atual de pandemia do novo coronavírus (Covid-19), com recomendações de distanciamento social impactando a rotina das escolas, é importante, além dos aspectos de prevenção e cuidados pessoais, que as psicólogas e os psicólogos escolares possam refletir sobre essa situação, bem como seus impactos nos processos escolares e nas subjetividades de todos os envolvidos. É nesse sentido que o CRP 01/DF, traz, a seguir, algumas possibilidades de ações e reflexões para as(os) psicólogas(os) que atuam em escolas, seja para o momento de escolas fechadas, seja para o retorno das atividades presenciais. Essas sugestões levam em consideração o compromisso ético-político da psicologia na defesa de uma educação de qualidade para todas e todos, entendendo que momentos de crise muitas vezes podem favorecer soluções aligeiradas que contribuam para a exclusão de parte significativa de nossos estudantes.
Às psicólogas e aos psicólogos que atuam em escolas, orientamos:
1) Lembrar de nosso papel fundamental no que se refere à psicoeducação frente a situações como uma pandemia. A(o) psicóloga(o) que atua na escola é um dos atores que colabora, em conjunto com os demais educadores, para os processos de formação continuada dos profissionais da educação e da comunidade escolar. Não há respostas prontas à crise do coronavírus, mas podemos fornecer ferramentas para a produção de materiais e informações focadas à população atendida pela sua escola. Nesse sentido, as informações precisam ser acessíveis de maneira a incluir todos os estudantes e familiares, em suas diferentes condições, no processo de conscientização. Podemos assim, colaborar para a seleção e adequação de material de acordo com a etapa e modalidade de ensino no qual estamos inseridos. Podemos contar com os materiais produzidos pelo Sistema Conselhos e por outras instituições como Ministério da Saúde, Fiocruz etc.;
2) Propor, quando couber, sempre de forma colaborativa com os demais atores escolares, momentos de reflexão junto à comunidade escolar sobre os impactos das ações governamentais e políticas públicas nas possibilidades individuais e coletivas de cuidado e prevenção. É importante discutirmos sobre como questões de raça, classe, gênero, idade e deficiência estão sendo devidamente consideradas nesse momento de crise;
3) Contribuir, quando couber, na divulgação de informações às famílias, com sugestões de materiais e atividades que colaborem na organização das rotinas familiares, considerando que a situação de pandemia afetou significativamente a vida dos estudantes e suas famílias. Com mais tempo de convivência entre crianças e seus cuidadores, em um espaço limitado, é possível o aumento da tensão e de conflitos;
4) A rotina e organização individual podem ser fatores importantes para o bem-estar de estudantes e profissionais da educação também. Podemos, assim, contribuir também em ações conjuntas com coordenadores pedagógicos e/ou orientadores educacionais em ações que abordem o tema;
5) O acolhimento e escuta da comunidade escolar durante esse momento de pandemia é de suma importância. Promover momentos que possibilitam estudantes e profissionais falarem sobre seus sentimentos, pensamentos e estratégias para lidar com a situação de confinamento pode ajudar na diminuição de angústias e também na troca de experiências importantes dentro da comunidade escolar;
6) Como dito anteriormente, a escola pode ser um ponto de apoio e suporte nesse momento. Nesse sentido, é possível acompanhar a comunidade escolar, dando preferência por encontros por meio de tecnologias da informação, tais como telefone ou internet, exceto em situações de crise ou nas quais você avalie, junto a seus colegas, que a intervenção presencial não pode ser evitada. Lembre-se que para atender à distância é necessário realizar o cadastro on-line, seguindo o disposto na Resolução CFP nº 11/2018;
7) O planejamento das atividades para esse período é muito importante. Entretanto, evite reuniões presenciais e procure realizar reuniões entre serviços ou intersetoriais por vídeo ou audioconferência. Caso sejam necessárias, que sejam realizadas com distância segura entre todas e todos e de preferência em ambientes abertos ou arejados;
8) Quando do retorno às atividades presenciais,além de contribuir para a efetivação das medidas de segurança, como distanciamento e uso correto de máscaras, é importante pensarmos em ações de acolhimento. Tais ações devem ser construídas de forma colaborativa com os gestores e demais profissionais da escola, permitindo que estudantes e profissionais da educação se expressem sobre seus medos, sobre o isolamento, suas ansiedades e perdas. Rodas de conversa, desenhos, jogos, brincadeiras, são algumas das possibilidades. O importante é permitir o diálogo, a informação e o acolhimento;
9) A situação de luto pode atingir parte da comunidade escolar, considerando o grande número de casos e mortes, requerendo, em determinadas situações, escutas específicas com pessoas da escola que estão com entes em situação de enfermidade ou que faleceram devido à Covid-19;
10) Procure manter-se atualizado por meio de fontes seguras de informação e reduza a leitura de informações superficiais, inconsistentes e que apenas aumentam a ansiedade. Estar bem informado também nos dá maior segurança para atuar;
11) Contribua com a promoção e cuidado em saúde mental da sua equipe, colaborando com a construção de um ambiente de trabalho colaborativo e empático;
12) Cuide de você, reconheça seus limites e peça ajuda sempre que sentir necessidade. Fique atento para o uso abusivo de medicamentos, álcool e outras drogas. Tente manter uma rotina de modo que possa dormir a quantidade de horas necessárias para sentir que descansou;
13) Novas rotinas foram criadas e adaptações foram feitas, mas é importante lembrar que ainda não estamos em uma situação de "normalidade". A pandemia e as ações do poder público ainda estão produzindo efeitos econômicos, sociais e subjetivos. Assim, apresentar ansiedade, insegurança, medo, confusão, letargia ainda é algo comum em situações como esta. Ou seja, não estamos imunes, mesmo sendo psicólogas(os).