Em referência ao ano olímpico, o Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP DF) vem apresentando uma série de materiais sobre a atuação da Psicologia no contexto esportivo. Na última semana, acompanhamos encontro de supervisão de um serviço-escola que oferece atendimento a atletas lesionados e em processo de reabilitação. Fomos recebidos pela professora Renata Vale, do Centro Universitário de Brasília (UNICEUB), que tratou, entre outros assuntos, da formação na área.
Antes do primeiro contato com os atletas, em grande parte lutadores e ginastas de alto rendimento lesionados e em processo de reabilitação, alunas e professora planejam as ações e temas a serem trabalhos durante o semestre: ansiedade, controle de emoções, autoestima, desenvolvimento de habilidades, perspectivas para a carreira profissional, o significado da lesão, os próprios limites no esporte.
"Até onde vai a nossa atuação?", indaga a professora Renata Vale. "O nosso papel, muitas vezes, pode ser levar o atleta a refletir sobre sua carreira, seus limites. Ele deve ter ciência de que está fazendo uma escolha para algo que vai continuar exigindo muito dele, lembrando que o esporte é também a sua profissão", observa. "Nem sempre no esporte de alto rendimento a posição ética é tão clara, mas cabe a nós ter clareza de que a nossa atuação deve ser sempre no sentido de promoção da saúde", completa.
Especialista clínica em Análise do Comportamento e mestre em Processos Comportamentais, a supervisora do serviço-escola de Psicologia esportiva lembra dos mitos em torno do trabalho psicológico, do tipo de acompanhamento adequado aos diferentes estágios da carreira de um atleta, da realidade local - ainda caminhando em termos de profissionalização das equipes esportivas - e da relação com técnicos e demais profissionais.
"Temos que conhecer as modalidades, as regras, para entender esses profissionais, lembrando que estamos aqui como psicólogos e não como técnicos", pontua Renata. "É claro que muitas vezes no contexto esportivo, você vai atender o atleta no meio da quadra, sentado em um banco. Você não vai ter um consultório com isolamento acústico e o psicólogo que quer trabalhar no esporte, mas não quer ir para treino, não quer ir para competição, não deve trabalhar com esporte. Ele precisa se adequar à rotina do atleta também. É uma relação diferente da área clínica. Às vezes, acompanhamos o atleta quase que diariamente e por isso a proximidade pode ser maior, o que não impede que você seja profissional, ético. Uma estagiária uma vez comentou que estava conversando com uma atleta que se emocionou, lhe deu um abraço e ela retribuiu. Isso não significa que vocês serão amigos, mas que você estabeleceu uma relação de confiança com a pessoa, que você mostrou profissionalismo ao ponto de ela te procurar e falar sobre o que está sentindo. E é importante que os outros profissionais saibam disso", ressalta a professora.
A turma discute sobre as linhas de pesquisa em desenvolvimento na área, destacando carências, como estudos empíricos apresentando resultados de intervenções. "Alguns temas são clássicos e outros são pouco pesquisados, como os processos de reabilitação de lesão. É muito raro na literatura relato da intervenção. O que vemos, em geral, são modelos teóricos para trabalhar com a intervenção. Questões como processos arbitragem, transição de carreira, mídia, também pouco aparecem", observa a docente.
A disciplina esportiva não costuma ser obrigatória nos currículos de Psicologia, lembra a professora, que aponta especialização, mestrado e doutorado em Psicologia ou Educação Física como possibilidades de complemento à formação. Serviços-escola são outro caminho, embora sejam geralmente pensados para estudantes em conclusão de curso.
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