Evento foi organizado pela Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP 01/DF em parceria com a Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) - Núcleo DF
O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) promoveu na última quarta-feira (23) a Mesa Redonda "Conjuntura política, formação em Psicologia e racismo". O evento abriu o calendário de atividades comemorativas do Dia Nacional da(o) Psicóloga(o), celebrado em 27 de agosto, e foi realizado por meio de parceria entre a Comissão Especial de Psicologia e Diversidade Étnico-Racial (CEPDER) e a Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) (ANPSINEP) - Núcleo DF.
A saudação de abertura do encontro foi feita pela coordenadora da CEPDER, Marizete Gouveia, pela conselheira presidente do CRP 01/DF, Vanuza Sales e pelo membro da ANPSINEP, Igo Gabriel Ribeiro. "Contamos com vocês profissionais para essa construção que é o fortalecimento da pauta étnico-racial no que tange à Psicologia", provocou na oportunidade a psicóloga Vanuza Sales. "E não tem como falarmos de formação em Psicologia e racismo sem falarmos em conjuntura política", completou Igo Gabriel Ribeiro.
A psicóloga e membra da ANPSINEP, Ana Luísa Coelho, coordenou a mesa, que contou ainda com a estudante Bianca Costa, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Francklin Lino Martins, do Centro Universitário Iesb, Valter da Mata, do Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP 03/BA), Antônio Teixeira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a professora doutora Lêda Gonçalves, da Universidade Católica de Brasília (UCB).
Bianca Costa falou de suas experiências como estudante negra, da dificuldade de encontrar referências de autores negros durante da graduação em Psicologia e da necessidade de uma formação que consiga preparar a(o) psicóloga(o) para a atuação em políticas públicas. "Faço parte da estatística que aborda o aumento da população negra dentro da universidade desde a implementação da cotas raciais e outras políticas afirmativas. Uma vez que chegamos nesses espaços de poder, precisamos começar também a construir as nossas narrativas, trazermos as nossas questões para a academia", defendeu, sendo acompanhada pelo psicólogo Francklin Lino Martins. "É muito importante nos apropriarmos dos espaços de fala para compartilhar as nossas experiências, os nossos conflitos e os nossos saberes", completou.
O presidente do CRP 03/BA, Valter da Matta, destacou em sua fala o histórico de atuação da Psicologia, que passa de uma ciência voltada às classes mais privilegiadas em sua origem à inserção, nas últimas décadas, dentro das diversas políticas públicas. O psicólogo ressaltou que, embora não se fale mais sobre a existência de diferentes raças humanas, a concepção ainda persiste no imaginário social, sendo o seu reconhecimento uma possibilidade de resistência da população negra. "As raças humanas podem não existir oficialmente, mas elas persistem e determinam lugares. As relações raciais determinam sentido. Olhamos as roupas, as expressividades dos corpo e, a partir disso, definimos o nosso julgamento social e decidimos que tratamento vamos dar às pessoas", explicou, usando como exemplo estudos realizados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) que apontam que as mulheres negras têm em média um menor tempo de consulta, menor quantidade de exames solicitados pelos médicos, além de um tratamento muitas vezes agressivo por profissionais de saúde no momento do parto. "Estamos em uma sociedade racializada em suas estruturas básicas e não tem como estamos em um mar de discriminações sem sermos afetados", observou.
Antônio Teixeira abordou em sua fala a conjuntura política do país no que se refere às políticas de austeridade, mudanças nas relações de trabalho e um possível aumento da desigualdade social. "Para a maior parte da população negra que nunca viveu o estado de bem estar social, estamos falando nesse momento de redução de expectativas, de esvaziamento de políticas de Estado que vinham para garantir os direitos constitucionalmente previstos", alertou. "Precisamos primeiro evidenciar o que nos separa para podermos resistir", pontuou, em referência à fala do psicólogo Valter da Matta.
A professora doutora Lêda Gonçalves concluiu o momento de falas dos palestrantes citando casos recentes que evidenciam a importância de fortalecimento do tema relações étnico-raciais. "A Psicologia incentiva a compreensão da complexidade do ser humano, então não há por que deixarmos de falar de formação humana e de relações sociais. Não podemos culpas as pessoas individualmente por seus sofrimentos ou trabalhar com uma formação profissional omissa", argumentou. "A saída é pela política. O racismo é um fator de risco para a saúde mental e precisamos constantemente nos perguntar: Como isso é tratado durante a formação dos profissionais de saúde?", provocou.
O encerramento da mesa redonda ocorreu com a troca de experiências entre palestrantes, profissionais e estudantes presentes, ocasião em que a presidente do CRP 01/DF destacou o trabalho da CEPDER em parceria com outras comissões deste conselho profissional na definição de projeto de formação de professores do DF na temática das relações étnico-raciais e a cooperação do CRP 01/DF com as instituições de ensino superior no aprimoramento dos currículos profissionais.