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O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF), representado por sua conselheira presidenta, Thessa Guimarães, marcou presença, no último sábado (29), no desfile do Bloco do RivoTrio, em sua 10ª edição nas ruas de Brasília-DF, ao lado das conselheiras Tania Inessa e Rebeca Potengy e da assessora técnica em políticas públicas do CRP 01/DF, Cristina Trarbach.
Organizado pelo coletivo InVerso e formado por familiares, trabalhadoras e trabalhadores, além de usuárias e usuários da rede de saúde mental, o bloco promove sensibilização sobre a luta antimanicomial e chama atenção para a garantia de direitos de pessoas em sofrimento psíquico.
O psicólogo e um dos fundadores do coletivo, Thiago Petra, explica que o Bloco do RivoTrio foi criado por demanda de pessoas consideradas “loucas” que se sentiam ainda mais segregadas na época do carnaval: “Foi construído um espaço para acolher o pânico, a paranoia e outras diversas angústias, além de chamar atenção da população frente ao tema da saúde mental. Pela folia, criou-se um diálogo com a cidade sobre a dimensão do sofrimento-existência. Fomos aos poucos ocupando o comércio e hoje ocupamos a rua toda, de fato mobilizando e trazendo conscientização”, observa o psicólogo. “Revigora assim um bloco ativista que luta por uma sociedade da soma dos afetos, da escuta e da compreensão, da empatia e da solidariedade no lugar da indiferença e do silenciamento”, completa.
“É muito mais humano aprender no amor do que na dor”, defende a assistente social Bruna Martins, aproveitando a folia ao lado da usuária Patrícia de Oliveira: “Eu acho que o sofrimento psíquico ainda não é conhecido como deveria. Falta iniciativa dos governos e conscientização da sociedade, o que movimentos como esse tentam promover”, ressalta Patrícia.
“O nosso ato aqui é um protesto contra a lógica manicomial que alguns governos insistem em defender. A ideia é promover o acolhimento humanizado e mostrar os significativos resultados do atendimento em rede, o que está representado aqui por diversos equipamentos e coletivos diferentes”, destaca a estudante de Psicologia Isabella Castro, referindo-se aos músicos, poetas e artesãos que se apresentavam ali, revelados nos equipamentos de cuidado mental da rede do DF.
Luta antimanicomial
As psicólogas e os psicólogos do Distrito Federal vêm acompanhando o desmonte da política de saúde mental com grande preocupação. No último mês, em audiência na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) [acesse aqui], a psicóloga e conselheira regional Tania Inessa cobrou providências do governo local e transmitiu aos parlamentares a série de desafios elencados pelos profissionais da área no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial.
Na avaliação da conselheira presidenta, Thessa Guimarães, “O bloco RivoTrio é um acontecimento onde se materializa o sentido do trabalho com o sofrimento psíquico: condensa-se a militância pela saúde mental com o senso comunitário do carnaval. A sublimação pela arte se une à crítica do modelo hospitalocêntrico de tratamento. Celebra-se a alegria, a rebeldia, a resistência. Usuárias, médicos, psicólogas, militantes, musicistas, assistentes sociais, lideranças políticas: todes estamos numa mesma e única função, a de carnavalizar.”
“A luta antimanicomial é uma urgente necessidade, visto que diversas comunidades terapêuticas e clínicas psiquiátricas violam os diretos humanos básicos”, alerta o psicólogo Thiago Petra. “Não há relatos de sucesso dentro desses ambientes, aliás, a existência dessas instituições é vergonhosa para a sociedade contemporânea. Sabemos que a vida humana não é tão romântica, ela apresenta percalços, é demasiadamente complexa e dinâmica, portanto todas as pessoas podem apresentar um momento de grande fragilidade psíquica e social e tal condição precisa estar sob a ética do cuidado”, argumenta o profissional.
“Lutamos pelo fim imediato das práticas manicomiais e pelo fortalecimento da rede de serviços comunitários. Muda-se assim o prisma hospitalocêntrico para uma ação que privilegie a territorialidade e a transversalidade, no dialogo constante da saúde com a política de cultura, lazer, mobilidade e processos de cidadania. Desse modo, a pessoa em sofrimento pode ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde. Inclusive estes são pontos garantidos pela legislação nacional e protocolos internacionais”, acrescenta.
A concentração do Bloco do RivoTrio ocorreu na quadra 408 Norte, com o grupo “Só pra não surtar”, seguido pelo coletivo “Filhas da Mãe”, formado por familiares de pessoas com Alzheimer. Às 15h, assumiu os microfones a banda “Maluco Voador”, seguida por cortejo até a quadra 405 Norte com as bandas “Maluvidas”, “Tropicaos”, “Tamara Maravilha” e “Efeitos Colaterais”.