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NOTA DE POSICIONAMENTO: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO DISTRITO FEDERAL REPUDIA MAU USO POLÍTICO DE CARTA COM O TEMA SUICÍDIO PELO ATUAL OCUPANTE DO CARGO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA, JAIR MESSIAS BOLSONARO

NOTA DE POSICIONAMENTO: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO DISTRITO FEDERAL REPUDIA MAU USO POLÍTICO DE CARTA COM O TEMA SUICÍDIO PELO ATUAL OCUPANTE DO CARGO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA, JAIR MESSIAS BOLSONARO


CRP 01/DF se solidariza com os familiares que perderam seus entes por suicídio ou por Covid-19 e reitera o compromisso social com a vida e formas dignas de viver

Acesse guia com orientações sobre o tema aqui.

O suicídio é um grave problema de saúde pública mundial, que demanda uma abordagem cuidadosa, eficaz e ética na comunicação.

No dia 11 de março de 2021, Jair Messias Bolsonaro, como Presidente da República, se pronunciou em sua live semanal também transmitida por uma rede de rádio: leu uma carta supostamente escrita por um homem que se matou. Fez isso como forma  de provar que estava certo quando disse que o isolamento social poderia aumentar os casos de depressão e suicídio. Assim, afirmou que os efeitos do isolamento são maiores e mais graves do que o vírus. Posteriormente à live, o seu filho Eduardo Bolsonaro publicou no twitter a carta e foto do homem citado, indicando que os governantes adeptos ao lockdown têm as mãos sujas de sangue.

O (mau) uso político de uma carta suicida para argumentar contra o lockdown – medida de segurança e enfrentamento ao Covid-19 adotada em todo o mundo – é um gesto antiético e imprudente e está não apenas baseada no negacionismo científico, como também na regulação mercadológica que sustentou as suas escolhas políticas baseadas no imperativo da economia ao invés do imperativo da vida.

O apelo à vida, nesse caso, implica não apenas em um debate ético, no qual precisamos nos posicionar como sociedade e como profissionais da psicologia comprometidos com a justiça social e direitos humanos, mas também e principalmente com questões técnicas que envolvem a saúde mental e o sofrimento psíquico.

Conhecer sobre o tema é fundamental para falar sobre o assunto. O suicídio é multifatorial e complexo, sem causa ou motivação única. Em uma série de Manuais voltados à prevenção do suicídio, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000) enfatiza-se que a forma como os meios de comunicação tratam os casos de morte autoprovocada pode influenciar a ocorrência de outros suicídios. A associação entre o aumento do número de casos de suicídio e a má cobertura midiática desses casos é um fato estabelecido na literatura científica. Uma das primeiras associações conhecidas entre os meios de comunicação de massa e suicídio decorre dos escritos de Goethe “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, publicada em 1774. Esse marco histórico origina o termo “Efeito Werther” e nos indica os efeitos de uma má condução no noticiamento e debate sobre o tema, em especial pelos riscos de imitação e contágio.

Com finalidade de minimizar os possíveis impactos negativos e clamar por atuações mais responsáveis com a prevenção, a OMS registra com clareza e evidências o que NÃO FAZER na cobertura e abordagem de veiculação de um suicídio: a) não publicar fotografias do falecido ou cartas suicidas; b) não informar detalhes específicos do método utilizado; c) não fornecer explicações simplistas; não glorificar o suicídio ou fazer sensacionalismo sobre o caso; d) não usar estereótipos religiosos ou culturais; e) não atribuir culpas.

Nesse sentido, e pautados em experiências reiteradas ao longo da história, entendemos que a decidir abordar fazer uso político de um caso de suicídio, Jair Bolsonaro e sua equipe de assessores assumiram um grave risco, o de efetuar impactos danosos em pessoas vulneráveis, com risco de contágio, agindo de maneira contraproducente e patentemente irresponsável com a vida das pessoas.

A atuação na prevenção do suicídio envolve melhoria de informação sobre o problema e sua magnitude, redução dos fatores de risco, investimento de pesquisas, avaliação e monitoramento de intervenções efetivas, assim como melhoria da resposta dos sistemas sociais e sanitários aos comportamentos suicidas.

Estamos em um momento agudo da pandemia, atingimos o recorde com 2.286 mortes em 24h. O Brasil soma 273.124 óbitos e 11.284.269 infectados, com gestão e políticas frágeis de sobrevivência, com atraso e lentidão do plano de vacinação. Apesar de reconhecermos as diversas camadas de vulnerabilidade e sofrimento psíquico, não temos o registro de mortes por suicídio e possível confirmação de curva ascendente no período pandêmico. É também preciso repetir que a calamidade pública que vive o Brasil não está em níveis ainda mais preocupantes e trágicos em função da resistência do Sistema Único de Saúde (SUS), que através de seus equipamentos e profissionais cuida efetivamente da saúde do povo brasileiro e enfrenta com verdadeiro heroísmo a política de morticínio generalizado vigente.

O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) repudia mais esse desserviço de Bolsonaro à sociedade. Solidarizamo-nos com os familiares que perderam seus entes por suicídio ou por Covid-19 e reiteramos o nosso compromisso social com a vida e formas dignas de viver.

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