A figurinista Pâmela Macedo, hoje com 25 anos de idade, tinha 16 quando conversou com os pais, pela primeira vez, sobre sua orientação sexual. Ao se assumir lésbica, prevalecia o medo de rejeição da família: "Todas as pessoas LGBTI+ estão propícias a passar por situações desse tipo. Ainda existem muitas pessoas que não respeitam quem elas consideram 'diferentes' do 'padrão'", observa.
A estudante de Serviço Social, Mari Ferreira, de 22 anos, teve o mesmo receio. Ela conta que chegou a lidar com agressões verbais e físicas em casa, e que ainda hoje sente a discriminação em diversos espaços ao se identificar como pessoa trans. Mari relata dificuldades no âmbito profissional para encontrar empresas que respeitem sua identidade de gênero e expõe o medo da violência, os estereótipos e a hipersexualização com a qual costuma se deparar: "O dia a dia de uma mulher trans é complicado. Aplicativos de transporte não querem pegar a corrida, as pessoas olham estranho… Sendo uma pessoa trans, [a ternura] é uma questão, muitas vezes, negada para a gente, a maioria de nós não tem", compartilha.
O Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, celebrado em 28 de junho, foi criado em referência à Rebelião de Stonewall, ocorrida em 1969, quando houve um grande protesto contra ação violenta de policiais nova-iorquinos que queriam fechar um bar que reunia a comunidade. A partir desse ato de resistência, houve o impulsionamento do ativismo pelos direitos LGBTI+ no mundo, que ainda hoje encontram ameaças à sua existência e dificuldades de acesso a direitos básicos.
O psicólogo Andrei Morales, coordenador da Comissão Especial LGBTI+ do CRP 01/DF e especialista em Neuropsicologia, destaca que datas como essa são importantes por trazerem memória, pertencimento e sentido a todas as pessoas que se identificam nessa comunidade, além de promover conhecimento para a população em geral, de maneira a trazer visibilidade e exigir respeito a todas as existências.
Enquanto psicólogo, Andrei entende que é necessário cada vez mais reflexão crítica desde a formação de novos profissionais: “É muito importante que se compreenda a relação tênue entre promoção de saúde, qualidade de vida e luta por garantia de direitos básicos para todas as pessoas, compreendendo-se por meio dos saberes técnicos e teóricos, as complexidades de cada indivíduo e das coletividades”, observa. “Frequentemente, o papel de profissionais de Psicologia é promover a fala de quem há muito está silenciado e acolher as narrativas que não foram ouvidas; empoderar pessoas por meio da compreensão de que suas existências são significativas e devem ser valorizadas”, ressalta.
Se as teorias psicológicas já estiveram a serviço do agenciamento da normatividade, como observa o psicólogo, membro da Comissão Especial LGBTI+ do CRP 01/DF, doutorando e mestre em Psicologia Clínica e Cultura, Felipe de Baére, em artigo publicado por este Conselho em 2019 (disponível
aqui), "o que se observa na atualidade é um esforço difuso e articulado do Sistema Conselhos para salvaguadar todas as pessoas LGBTI+ que se encontram em sofrimento psíquico por não serem cisgêneras e/ou heterossexuais." E completa: "Compreende-se que tal sofrimento não se funda e se perfaz na insatisfação com a própria sexualidade ou identidade de gênero, mas na impossibilidade de viver a afetividade e a existência de forma plena e respeitosa em uma sociedade estruturalmente patriarcal e sexista."
Nesse sentido, duas importantes resoluções do Sistema Conselhos de Psicologia trazem parâmetros para o acolhimento de demandas no âmbito da saúde mental da população sexo-gênero diversa. A Resolução CFP n° 01/1999 (disponível
aqui) estabelece regras para a atuação de psicólogas e psicólogos em relação à orientação sexual, e a Resolução CFP n° 01/2018 (disponível
aqui) cria normas para a categoria na relação profissional com pessoas trans, na perspectiva da despatologização das identidades.
Complementando as orientações para atuação profissional, em 2020 o CRP 01/DF lançou a publicação "Acolhimento às pessoas LGBTQI+ nos serviços de saúde: orientações voltadas para profissionais da Psicologia e demais áreas da saúde" (disponível
aqui), entendendo que “respeitar as subjetividades dessa população, bem como de outros grupos minoritários, é exercer dois importantes princípios do Sistema Único de Saúde (SUS): a universalidade e a equidade, em especial este segundo que, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, tem por objetivo diminuir as desigualdades, entendendo que as pessoas são diferentes e, por isso, têm necessidades singulares”, destaca a publicação..
Neste Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, o CRP 01/DF reafirma o compromisso da profissão com os direitos humanos, a defesa da diversidade e a promoção de saúde para todas as pessoas.