Uma história para construir o futuro
Há exatos 60 anos, a Psicologia tinha a sua regulamentação promulgada. Quando a Psicologia nasceu, servia a fins de adaptação e controle de corpos, comprometida até o osso com um projeto autoritário, eugenista e produtivista de sociedade. Não são poucos exemplos de profissionais da Psicologia que contribuíram, direta ou indiretamente, nos porões do DOI-CODI ou às mesas de negociação, para a ditadura empresarial-militar brasileira dos anos 60. Paralelamente, um sem-número de psicólogas e estudantes de Psicologia também ousaram lutar e deram suas vidas pela derrubada dos militares e conquista da Constituição de 88.
De lá para cá a Psicologia nunca descansou. Com a Carta Cidadã, foi criado o Sistema Único de Saúde, e desde então a Psicologia vai participando da democratização do Brasil, disputando e ocupando as políticas públicas do cuidado do sofrimento. Nessa história, muitas profissionais e coletivos de Psicologia lutaram pela expansão de nosso campo de trabalho, conquistando espaços nas políticas de saúde, educação, assistência, segurança, cada vez mais se consolidando como campo social de defesa de direitos fundamentais e de combate à lógica fetichista e mercantilista que torna o mal-estar humano mais uma commodity a ser explorada pelos capitalistas.
Como se viu nas últimas eleições ds Psicologia de 2019, bem como na presente eleição, a Psicologia segue sendo um campo de batalha. O objeto desta contenda é o sofrimento humano: de um lado, tem quem lute para explorá-lo. Do outro, temos nós!
E quem somos? Somos a classe trabalhadora da Psicologia brasileira. Somos majoritariamente mulheres, trabalhadoras, guerreiras, muitas vezes em contratos informais, com jornadas duplas ou triplas de trabalho, mal remuneradas, sobrevivendo num contexto de arrocho, de retirada de direitos e desmonte de políticas sociais. Somos mulheres que trabalham para o Estado, para o povo brasileiro, nos territórios onde as pessoas vivem, amam e sofrem.
Hoje, nossa profissão vem sendo transformada pelas políticas de acesso à universidade, e também por um acerto de contas epistemológico que nossa ciência vem fazendo com saberes subalternizados historicamente. Por isso, uma Psicologia da branquitude, com ares de secretária da medicina, vem se aquilombando, vem incluindo em seus quadros as periferias de classe, gênero, raça e etnia. Por isso, temos cada vez mais a negritude compondo nossos quadros e nossa produção de conhecimento. Por isso, temos acolhido o saber milenar dos povos indígenas e originários em nossos espaços deliberativos. Por isso temos psicólogas travestis em espaços de representação e poder!
A Psicologia brasileira tem a tarefa de participar da reagregação do tecido social brasileiro. Temos o dever e as condições de cuidar do sofrimento num momento histórico particularmente mórbido, quando a necropolítica neoliberal segue organizada para matar, prender, torturar e explorar. Temos força para conter o avanço dos assassinos. Temos tecnologias democráticas de participação. Temos incidência sobre a realidade. Vamos seguir aprofundando o compromisso da Psicologia com os direitos fundamentais, com a maioria do povo brasileiro e com a derrubada do sistema patriarcalista colonial brasileiro.
Lélia Gonzalez nos ensinou que o sexismo é tão estrutural quando o racismo no contexto da constituição da brasilidade. Que na origem de cada brasileiro, cada brasileira, tem um seio preto que já nos nutriu e acolheu. Os corações coloniais podem estar duros e mortos, mas o nosso pulsa com força.
Um feliz dia da psicóloga, de psicólogue e do psicólogo para toda a camaradagem do Distrito Federal!
Juliana Pacheco, presente!
#DescreviParaVocê: card com fundo branco, duas faixas bordô em cima e embaixo, com as inscrições: vinte e sete de agosto – Dia das/os psicólogas/os. No centro, imagem de pessoas caminhando umas ao encontro das outras, formando o número sessenta. No canto superior esquerdo, a marca gráfica de comemoração dos sessenta anos da Psicologia no Brasil e, no canto inferior direito, a marca do CRP 01/DF.