Bem-Vinda(o)!

O CRP 01/DF está de cara nova!

Mas se você quiser ainda é possível acessar o site antigo no menu acima


ARTIGO: O DESAFIO DO TRABALHO DE TÉCNICOS DE ENFERMAGEM

ARTIGO: O DESAFIO DO TRABALHO DE TÉCNICOS DE ENFERMAGEM


| PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO |

Artigo: O Desafio do Trabalho de Técnicos de Enfermagem
Por: Jonas Lopes

O trabalho dos técnicos de enfermagem em hospitais privados é profundamente afetado pela lógica do capitalismo e do neoliberalismo, gerando consequências significativas para a saúde mental e física desses profissionais. A sociedade contemporânea, como descreve Byung-Chul Han em "Sociedade do Cansaço" (2015), transforma o indivíduo em um "empreendedor de si mesmo", onde ele se vê como o único responsável pelo sucesso ou fracasso. Isso isenta as instituições de saúde de suas responsabilidades, deixando trabalhadoras e trabalhadores sobrecarregados e vulneráveis. O cenário é especialmente grave para técnicas(os/es) de enfermagem, que enfrentam uma pressão contínua para atender a um grande volume de pacientes, além de realizar tarefas administrativas e assistenciais, o que compromete tanto sua saúde física quanto mental (Han, 2015). 

A cultura de desempenho imposta pelo neoliberalismo intensifica essas questões ao transformar todos os aspectos da vida em áreas de competição e lucro. Suely Rolnik, em "Esferas da Insurreição" (2018), aprofunda essa análise, mostrando que o neoliberalismo captura não apenas o corpo dos trabalhadores, mas também o seu desejo e imaginário. Isso resulta em um esvaziamento afetivo e emocional, sufocando a resistência e vitalidade de trabalhadoras(es). Nos hospitais, é comum ver profissionais com semblantes cansados, energia esgotada e uma ausência de brilho nos olhos – sinais visíveis de um estado de alienação e sofrimento silencioso (Rolnik, 2018). 

Essa pressão é exacerbada pelas condições de trabalho nos hospitais privados, que operam sob uma lógica capitalista, voltada para a maximização dos lucros e a redução de custos. A busca pela eficiência produtiva muitas vezes ignora as necessidades de trabalhadoras(es), resultando em jornadas longas, alta carga de trabalho e remuneração inadequada. Maslach e Leiter (2016) destacam que esses fatores contribuem para um aumento do estresse, exaustão e uma menor qualidade no atendimento aos pacientes. Essa dinâmica afeta diretamente a saúde de trabalhadoras e trabalhadores, que muitas vezes recorrem a estratégias de autoexploração para se manterem competitivos e produtivos, ainda que isso comprometa seu bem-estar. 

O neoliberalismo, ao priorizar a privatização e a minimização do papel do Estado, também contribui para a precarização das condições de trabalho. A flexibilização das relações de trabalho e a terceirização, aspectos centrais desse modelo econômico, resultam em maior instabilidade no emprego e menos garantias trabalhistas. Harvey (2005) argumenta que essa lógica de mercado tem exacerbado as desigualdades e criado um ambiente de trabalho adverso, onde as(os/es) técnicas(os/es) de enfermagem enfrentam uma crescente sensação de insegurança e sobrecarga. Diante desse contexto, a crítica ao desenvolvimento sustentável ocidental revela uma contradição entre a busca por eficiência e a preservação dos direitos de trabalhadoras(es) e do meio ambiente. Naomi Klein (2014) destaca que o modelo ocidental de desenvolvimento frequentemente ignora a exploração de trabalhadoras(es) em favor dos lucros, agravando ainda mais a precarização no setor da saúde. Frente a essas questões, a filosofia do Bem Viver, proposta por Ailton Krenak (2019), surge como uma alternativa ao modelo capitalista. O Bem Viver enfatiza a importância da harmonia com a natureza e sugere que a preservação da saúde ambiental está diretamente ligada ao bem-estar de trabalhadoras(es). 

Krenak (2020) argumenta que a atual lógica de progresso e consumo capitalista perpetua um ciclo de destruição que afeta tanto a natureza, quanto o ser humano. Para ele, a vida não deve ser vista como mercadoria, e o progresso não pode ser alcançado às custas da saúde do planeta e de trabalhadoras(es). Esse pensamento ecoa no contexto de técnicas(os/es) de enfermagem, cujas condições de trabalho refletem uma lógica de exploração contínua, na qual o bem-estar é sacrificado em prol da eficiência e do lucro. Criar ambientes de trabalho saudáveis e sustentáveis é, portanto, fundamental para garantir a saúde de trabalhadoras(es) e a qualidade dos serviços prestados à sociedade (Krenak, 2019). 

Portanto, repensar as relações de trabalho no setor da saúde exige uma crítica profunda ao modelo capitalista e neoliberal. A valorização de técnicas(os/es) de enfermagem e a promoção de condições laborais dignas são essenciais para romper com o ciclo de exploração e alienação que marca o trabalho dessas(es) profissionais. É urgente que as instituições de saúde e as políticas públicas promovam uma abordagem mais humana e sustentável, na qual o bem-estar das trabalhadoras e trabalhadores seja prioridade. 

Jonas Lopes (CRP 01/23421) é psicólogo Organizacional e do Trabalho no contexto hospitalar de Brasília, mestrando em Psicologia (UCB), professor universitário e coordenador da Comissão Especial de Psicologia Organizacional e do Trabalho do CRP 01/DF.

Referências: 
Han, B.-C. (2015). Sociedade do cansaço. Vozes. 
Harvey, D. (2005). O neoliberalismo: História e implicações. Edições Loyola. 
Klein, N. (2014). Isso muda tudo: Capitalismo vs. o clima. Zahar. 
Krenak, A. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras. 
Maslach, C., & Leiter, M. P. (2016). Banishing burnout: Six strategies for improving your relationship with work. Jossey-Bass. 
Rolnik, S. (2018). Esferas da insurreição: Notas para uma vida não cafetinada. N-1 Edições.

#DescreviParaVocê:a imagem colorida conta com uma chamada para leitura do artigo, além da marca gráfica do CRP 01/DF e de uma fotografia do autor, Jonas Lopes, um homem negro de pele clara, cabelos curtos e escuros, camiseta e óculos pretos, que sorri, sentado em frente a uma estante de livros, apoiado a uma mesa de madeira com um computador e um telefone celular em cima.



<< Ver Anterior Ver Próximo >>