Em alusão ao Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, o Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) publica esta semana uma série de entrevistas concedidas por profissionais indígenas que atuam como referência na área da saúde mental, garantia de direitos e promoção da diversidade em diversas regiões do País.
Nesta entrevista, convidamos a antropóloga Braulina Baniwa a compartilhar suas vivências com as(os) psicólogas(os/es) e população do Distrito Federal. Braulina Baniwa é cientista indígena antropóloga, defensora de direitos humanos e povos indígenas, entre outras pautas, das questões de gênero, sexualidade indígena e enfrentamento à violência política contra mulheres. É co-fundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e da Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA), mulher terra do Bioma Amazônia, sendo uma das porta-vozes em defesa de corpo território das mulheres indígenas no Brasil.
Confira:
1) Em 7 de fevereiro, celebramos o Dia Nacional de LUTA dos Povos Indígenas, palavra que acompanha os mais de 300 povos indígenas já reconhecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Brasil, sobretudo quando consideramos o histórico de um Estado estruturado a partir de um modelo exploração predatória do meio ambiente e desigualdade social. Na sua avaliação, qual a importância dessa data e qual a relevância de não limitar as reflexões propostas por ela somente ao dia 7 de fevereiro?
O dia demarca o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, que são povos originários do País, para socializar informação com demais pessoas da sociedade brasileira que os povos indígenas estão no presente e não somente na história. Os povos indígenas, mesmo com toda violência e violações enfrentadas no processo de colonização, seguem resistindo e existindo falando sua própria língua.
2) Estamos vivendo um contexto em que conquistas de direitos importantes estão sob ameaça diante do avanço de grupos supremacistas no Brasil e no mundo. Quando falamos de povos indígenas em nosso País, estamos falando de diferentes culturas, de mais de 270 línguas distribuídas por todo o território nacional e de uma diversidade de demandas e cosmovisões que não se encaixa em um padrão de ser humano único e universal ou em um modelo de sociedade que desconsidera as singularidades das pessoas e das coletividades. Qual o lugar da sua atuação profissional nesse cenário?
Atuo como cientista indígena na Antropologia Social, mas sou neta e filha das minhas que me antecederam. Nosso maior desafio de luta na contemporaneidade é mostrar à sociedade que o Brasil é terra indígena e que estamos nas cidades, nos territórios e nas universidades, como estudantes indígenas. Faço formação de letramento racial para os que não nos conhecem, pois nós, os povos indígenas, somo pessoas de diálogo, então formamos pessoas que não nos conhecem para que possam nos respeitar.
3) Um dos temas que vêm ganhando destaque no noticiário diante dos impactos das mudanças climáticas é o racismo ambiental e como diferentes grupos sociais estão mais ou menos vulneráveis a essa realidade. Como esse tema tem sido observado em seu trabalho junto a populações indígenas no Brasil, em sua região, e de que forma os desafios enfrentados pelos povos indígenas impactam a saúde mental dessas comunidades?
Os mais vulneráveis são os mais afetados nesse processo, a mudança climática deveria ser em cima daqueles que violentam florestas, rios e terra. Mas nós, as mulheres e as crianças, somos as mais violentadas nesse processo, a falta de alimento e território é ameça à nossa existência.
4) Como a sua área de atuação profissional pode ser utilizada como ferramenta para fortalecer as identidades culturais indígenas e promover o bem-estar?
Sou defensora das mulheres indígenas, dizendo que são as maiores cientistas milenares dos povos indígenas no Brasil das nossas ciências, pois nós, as mulheres, produzimos ciência de cuidado e tratamento. As nossas línguas indígenas são nossas próprias ciências de luta pela nossa continuidade de existir, pois é através dela que fazemos nossos processos de cuidado aos nossos corpos-território, e cuidamos do nosso território como todo.
5) Como ser uma mulher indígena influencia sua abordagem profissional? Que desafios ou preconceitos você enfrentou em sua trajetória acadêmica ou profissional, e como os superou? Há algum momento marcante em sua vivência como mulher indígena que ilustre a força e a resiliência de seu povo?
Os não indígenas continuam duvidando da nossa capacidade, por sermos mulheres e indígenas. A nossa melhor resposta para essa prática é que estamos cada vez mais aptas a coordenar e liderar qualquer grupo de trabalho, pesquisa, território, mobilizando e articulando para continuidade da nossa existência.
#DescreviParaVocê: card colorido no qual aparece uma foto da cientista, a marca gráfica do CRP 01/DF e uma chamada para leitura da entrevista completa.