Conselheira do CRP DF, Márcia Maria da Silva fala da importância da temática étnico-racial na sociedade e do combate ao preconceito como desafios à Psicologia
O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP DF) dedica o mês de novembro a uma reflexão sobre o modo de vida da população negra na sociedade brasileira. Assim, atenta não apenas sobre a necessidade da contribuição da Psicologia referente às relações étnico-raciais, mas também pontua o racismo e a discriminação como fontes de exclusão social e, por consequência, sofrimento.
Sem voz e sem representações na política, na mídia, no ambiente acadêmico, enfim nos espaços de produção da sociedade brasileira a população negra permanece submetida a uma dura subordinação e, portanto, em desvantagens sociais, econômicas e, consequentemente, emocionais.
Nesse aspecto, a produção do discurso na sociedade brasileira é controlada, selecionada, organizada e redistribuída a fim de assegurar o poder de uma raça sobre a outra, assim os negros seguem excluídos dos grupos que falam e/ou das posições de onde se fala com autoridade.
Cabe lembrar que o poder de falar com soberania é o reconhecimento de que o discurso do outro tem valor e, portanto, merece ser ouvido. Nesse sentido, os negros são silenciados e invisibilizados nas suas manifestações sejam elas culturais, intelectuais e/ou físicas.
É fato também que o país já naturalizou que um número muito pequeno de negros são professores, advogados, médicos, psicólogos, senadores, servidores públicos, deputados, no entanto são em grade maioria os pedintes nas ruas, os lixeiros, os catadores, os empregados domésticos, apesar de o Brasil alardear ser um país plenamente democrático.
Nesse sentido, o corpo negro, lugar de valor, de imaginários, de ligações incontestáveis, lugar das razões e emoções é sempre apontado como feio, sem valor estético ou cultural e permanentemente interditado nos espaços de poder e/ou lugares denominados privilegiados.
Esta constante tensão certamente acarretará dificuldades midiáticas a população negra. No entanto, as várias áreas do conhecimento, assim como a psicologia, pouco se debruçaram sobre essas relações antagônicas, estressantes, contraditórias, e violentas. Sim, violentas.
De acordo com dados do Mapa da Violência (2015), em 2012, as Armas de Fogo vitimaram 10.632 brancos e 28.946 negros, o que representa 11,8 óbitos para cada 100 mil brancos e 28,5 para cada 100 mil negros. Assim, morreram proporcionalmente, 142% mais negros que brancos.
Salienta-se que, preponderantemente, as vítimas desses homicídios são jovens negros, que perdem suas vidas em confrontos policiais. Na mesma linha de raciocínio, mulheres e homens negros também reclamam que são negligenciados no sistema de saúde relatando história de familiares que vieram a óbito em função dessa negligência.
Assim, não há uma escuta qualificada por parte das psicólogas/os sobre os problemas raciais, pois não raro, queixas são proferidas por pessoas negras de que ao abordar este assunto em terapia, profissionais da psicologia buscam desqualificar essas reclamações.
Essas limitações no enfrentamento ao racismo por parte da psicologia exigirá profundas transformações na formação acadêmica e profissional, compreendendo a inclusão nos currículos da temática racial e maior empenho do Sistema Conselhos em debater as relações raciais.
Nesse aspecto, o CRP DF, desde a formação do XV Plenário, colocou como uma das suas prioridades a discussão da temática racial e assinou com o Governo do Distrito Federal – Secretaria de Estado de Trabalho Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos um acordo de Cooperação Técnica com a finalidade de capacitar psicólogas/os em temas afetos a população negra.
Por fim, é importante o empenho da sociedade como um todo na luta para que a população negra realmente venha a ocupar espaços igualitários na sociedade brasileira.